"MAS DEIXAREI NO MEIO DE TI UM POVO MODESTO E HUMILDE, QUE CONFIA EM O NOME DO SENHOR"
SOFONIAS 3.12
A PRESENÇA DO AMOR
- RADA JACOB
Conhecia-a quando eu era ainda jovem, uns dezesseis ou dezessete anos, fiquei logo encantada com seu sorriso franco e suas palavras, sempre amorosas. Minha irmã, Oneide, estava namorando um rapaz da Igreja do Braz, em São Paulo, Abrão Jacob, hoje seu marido, e fomos até a casa dele para conhecer sua mãe, a pessoa maravilhosa e bondosa da D. Rada.
Filha de pais sírios, D. Rada foi criada em Muzambinho, uma cidade do Estado de Minas Gerais. Quando conheceu o Senhor Jesus, sofreu muito, foi desprezada por toda família, até mesmo maltratada por seu marido, mas, tendo sua vida transformada pelo Evangelho de Cristo, ela deu valor ao tesouro que encontrara e, desde essa época, passou a andar com Jesus e servi-lo com intereza de coração.
Devia ter, quanto a conheci, cerca de setenta anos, e era de um dinamismo de causar inveja. Preparou para nós um almoço muito saboroso e, com muita alegria, serviu a todos. Não nos deixou ajudá-la, somente dizia:
_ É um prazer para mim receber as queridas em minha casa. É um presente do Senhor. A gente percebia que era verdade, ela demonstrava sua felicidade em ter-nos ali.
Para se ter uma idéia de seu dinamismo, é só saber que com aquela idade, ela fazia todas as tarefas da casa, cuidava de seu marido, já com quase oitenta anos e, dos dois filhos, adultos, que não podiam trabalhar. Fazia a feira uma vez por semana e ainda dirigia dois cultos semanais em sua casa.
Saí daquele lugar fascinada por aqueles cabelos branquinhos e pelo amor que aquela senhora dedicava ao seu Deus. Impressionei-me de que logo após o almoço, continuássemos à mesa para ler a Bíblia e cantar hinos ao Senhor, por puro prazer, sem ser uma rotina, somente pela alegria de louvar ao Senhor. Realmente ela me cativou e me fez desejar também ser assim, ter essa doce intimidade com Deus e gostar de falar Dele.
Dona Rada tinha um assunto predileto, falar das maravilhas que Deus está fazendo no meio do seu povo. Relatava com simplicidade os grandes milagres que o Salvador realizava através de suas orações.
Esta mulher, com apenas o segundo ano do antigo primário, escrevia comentários magníficos da Palavra de Deus. Ela os lia em suas reuniões semanais. Que horas ela os escrevia? Nas vigílias da noite. Era esta a hora favorita desta santa buscar ao Senhor. Quantas vezes seus filhos a encontraram, de madrugada, altas horas da noite, adormecida, de joelhos, numa oração inacabada, ou cochilando em cima de seus cadernos nos quais escrevia seus comentários.
Sempre hospitaleira. Tinha sempre à mesa um lugar a mais para o irmão ou amigo que,por acaso, aparecesse sem avisar. E que comida deliciosa ela servia! Punha ali do melhor que tinha e dizia:
_ Nunca faltou nada a esta casa. O Senhor sempre nos deu o melhor. Louvado seja Deus!
Creio que D. Rada copiou quase toda a Escritura à mão. Ela tinha três latões cheios de versículos copiados por ela mesma e dizia:
_ Não concordo com as tais "caixinhas de promessas", elas só trazem coisas boas para todos e, muitas vezes nosso Pai que nos exortar, então, todos os versículos são importantes. Cada pessoa que entrava em seu lar tinha que colocar a mão dentro dos latões e retirar um versículo, apos a leitura desta, D. Rada comentava-o e orava pela pessoa. Ela tinha testemunhos de benção decorrentes desta atitude. Lembro-me bem de um deles.
Um senhor, industrial, veio ali a convite de alguém para que D. Rada orasse por ele. Ela o recebeu com alegria e lhe perguntou:
_ O senhor deseja receber oração?
_ Bem, estou aqui porque insistiram comigo para vir, mas já vou dizendo, não acredito muito nisto, nem sei se Deus existe!
_ Está bem, disse D. Rada. Tire agora um versículo ali, e indicou o latão.
O homem colocou a mão, retirou um versículo leu e ficou pálido de espanto. D. Rada pegou o papel de sua mão após a leitura e disse:
_ O senhor realmente não pode ter certeza de que Deus existe. Ele nem conhece o senhor.... ( o homem havia tirado Mateus 7.23 que diz: "Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade".)
Aquele homem guardou o versículo no bolso e recebeu a oração. Hoje, ele é um operoso membro de uma Igreja Batista, em São Paulo.
A casa de D. Rada estava sempre cheia. Ela tinha um lugar, perto da escada que subia para os quartos, conhecido por todos como "cantinho da oração". Era aí que ela levava todas as pessoas que iam lá em busca de alguma palavra de incentivo, oração para cura, procura de empregos, problemas dos mais diversos. Minha irmã disse que agora, após tantos anos, olhando naquele cantinho, todos têm saudades, é o lugar mais gostoso da sala....
Outro fato que me marcou bastante foi quando seu esposo faleceu, logo após receber a notícia eu e meu esposo fomos visitá-la. O corpo de seu Isaque ainda estava estendido na cama quando chegamos, D. Rada nos recebeu, víamos seu rosto vermelho, sabíamos que tinha chorado, mas ela conversou um pouco conosco, deu-nos um hinário e exclamou:
_ Vamos cantar ao Senhor, meu marido está com Ele na glória.!
Fomos confortá-a, sa´mos impressionados pela realidade daquela fé genuína.
Saía de casa em casa visitando seus doentes e tinha um poder que advinha do Espírito Santo. Os demônios se retiravam das pessoas quando ela orava. D. Rada sabia que tinha autoridade sobre eles. Autoridade vinda do Pai. Várias vezes minha irmã a acompanhou em visitas para libertação de pessoas opressas. Nunca tinha medo de lutar contra o malígno, estava convicta da vitória. Ela conhecia seu comandante e sabia que o diabo não pode desobedecer às suas ordens.
Não posso falar da vida de D. Rada sem mencionar a Edna, um dentre seus outro filhos, uma filha que foi seu esteio. Aquela que batalhou incansavelmente, para que sia mãe fosse o que foi. Sempre supriu as necessidades de casa e, quando D. Rada estava bem,além de trabalhar fora o dia inteiro, ainda achava tempo para manter sua casa em ordem para que sia mãe pudesse ter suas reuniões e fizesse suas visitas.
Quando D. Rada ficou cansada, com o peso dos anos, Edna viveu para dar a ela todo carinho. Cuidou dela com desvelo e amor e ainda teve tempo para amparar seus dois irmãos. É uma mulher de fibra, trabalhadeira, devotada á família, cristã por exelência. É digna de nossa admiração. É altruísta, está sempre sorrindo, vivendo para os outros, refletindo com sua vida, a presença de outra maior que transborda de dentro dela.
Dona Rada faleceu há pouco tempo com 96 anos.No final de sua vida sua força já não era mais a mesma, sua cabecinha já não raciosinava como outrora, seus passos ficaram vagarosos e seu corpo inclinado nos dava a impressão de que a idade pesava em seus ombros, mas uma coisa nunca mudou nela, seu amor por Jesus. Até o dia de sua morte convidava todos para a leitura da Palavra de Deus, pois ainda queria louvar ao Senhor. Não ficava sem fazzer seu culto após o almoço ou jantar, e quem fosse ali para uma refeição, podia ouvir dela:
_ Já alimentamos o corpo, vamos agora alimentar a alma!
Ela olhava para a janela e cantava um hino e parecia que as folhas das árvores balançavam para ela, e com alegria infantil dizia:
_ Ele está ali. O Senhor está lá em cima, os outros são os seus anjos.
Dona Rada está mais feliz do que nunca, foi ver o seu Senhor "face a face", vai agora poder fazer muitas perguntas a Ele, vai compreender o seu imenso amor, vai desfrutar das maravilhas que ele preparou para cada um de nós. Ela estará com a vida completa, pois, nós que amamos ao Senhor, só nos completaremos Nele.
Para mim, D. Rada foi uma pessoa que representou o autêntico cristianismo. Ela praticou o que Cristo praticou, andou como Ele andou. Amou como Ele amou. Seguiu, amorosamente os Seus passos. Uma vida fruutífera, um manancial de bençãos, um exemplo de vida....
Elma Ester Corrêa de Oliveira
Conhecendo Deus através das Pessoas.
Continua....
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